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De modo geral, homens e mulheres de nossa cultura delegam ao homem, desde seu nascimento, uma carga muito pesada, às vezes impossível de ser carregada. Existe uma forte expectativa social de que o homem aja conforme algumas normas rígidas entendidas como o ideal de masculinidade. A reflexão tende a ser menor do que a simples reprodução desses padrões de comportamento. Quando o homem segue esses padrões, ou seja, quando ele demonstra coragem, virilidade, independência, firmeza, ele tende a ser aceito e encontra maior facilidade no trato social. Quando ele não os segue, isto é, quando apresenta companheirismo, vulnerabilidade, fragilidade, tende a ser criticado e rotulado com termos que desmerecem sua masculinidade e identidade. Essa pressão é tão forte, que alguns autores chegam a afirmar que, diferentemente da mulher que enraíza sua identidade na aceitação de sua feminilidade, o homem constrói seu senso de ser homem através da aniquilação de tudo que é feminino dentro de si.

Considerando o modus operandi das sociedades urbanas atuais, idos são os tempos em que o homem precisava desempenhar o papel de um caçador-coletor. Vários fatores de nosso tempo presente, incluindo o rápido desenvolvimento tecnológico, assim como o processo de emancipação feminina, fazem surgir um cenário em que cada vez mais as mulheres precisam menos dos homens. Elas estão tendo acesso amplo à educação, ocupando posições de poder e, em alguns casos, ganhando mais dinheiro que eles. E aqui fazemos uma reflexão: será que nesse cenário atual o homem ainda precisa copiar o antigo modelo do macho corajoso, inflexível e insociável?

Autores da área afirmam que para seguir o modelo à risca o homem precisa aprender a não falar de si, mas de outros assuntos gerais, como ascensão profissional, política, economia, esportes, etc. Falar de si é considerado “ameaçador”, pois significa reconhecer que tem necessidades afetivas e demonstrar vulnerabilidade. É possível amar sem se colocar em posição de vulnerabilidade?

Não é difícil imaginar um casal vivendo debaixo de um mesmo teto, substituindo diálogos por monólogos. O homem que segue esse modelo não treina comportamentos com função de apoiar emocionalmente a parceria. Aos poucos vai surgindo um sentimento tão bem descrito pelo compositor Alceu Valença, em sua canção Solidão, quando diz: “A solidão é fera, a solidão devora / É amiga das horas prima-irmã do tempo / E faz nossos relógios caminharem lentos / Causando um descompasso no meu coração”. Com o passar do tempo, o que deveria ser um lar vai aos poucos adquirindo tonalidades mais sóbrias e uma aridez semelhante a dos desertos mais ermos. Um fato conhecido é que a falta de comunicação ou a comunicação inadequada destrói o amor nas relações, causando o afastamento dos membros do casal.

A masculinidade atual é mais rica, diversa, abrangente e inclui uma conexão íntima com o feminino. Talvez pudéssemos dizer que corajoso hoje não é simplesmente adotar o modelo do macho corajoso, mas ter a coragem de flexibilizar esse modelo ao ponto de também conseguir admitir fragilidade. Nesse sentido, desafiador não é tão somente seguir o modelo e ficar na zona de conforto, onde há aceitação da maioria. Desafiador é questionar o modelo e observar compassivamente os pensamentos e sentimentos que afloram, com responsabilidade, abertura ao novo e curiosidade. O homem é, antes de tudo, um ser humano. Ele é dotado de um sistema nervoso autônomo simpático, que é ativado em situações de perigo. Quando isso acontece, ele sente medo, tem necessidade de apoio, duvida, treme na base e, muitas vezes, chora. Afinal de contas, homem também chora.  Ele precisa não apenas de comida, mas também de diversão, arte, amor, carinho, compreensão, etc. Um processo educacional que se proponha a educar esse “novo” homem precisa ser mais realista e levar em consideração o que o homem é e não o que ele deveria ser.

Esse é um texto meramente pedagógico e que não tem o objetivo de substituir consulta por profissional especializado. Caso você tenha dificuldade pessoal relacionada ao tema em questão, sugiro procurar a ajuda de um psicoterapeuta que tenha conhecimentos teóricos e experiência prática na área.

Referência:

www.alceuvalenca.com.br/letra/11-solidao/

Texto de autoria do Psicólogo Alexandro Paiva.

Alexandro Nobre Paiva é Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta Sexual e de Casais (CRP 06/118772) com experiência no atendimento de clientes brasileiros e estrangeiros adultos, nas línguas inglesa e portuguesa. Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBAN IPq HC FMUSP) e pela Proficoncept, certificada pela DGERT (União Europeia). Qualificação Avançada em Psicoterapia com Enfoque na Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (INPASEX). Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBULIM IPq HC FMUSP) e pela Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP). Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

Especialista em Língua Inglesa: Metodologia da Tradução pela FAFIRE, tendo atuado como Professor de Língua Inglesa por cerca de 10 anos (Brasil e China) e convivido com pessoas de diferentes culturas, mantém um Blog com Recursos Psicoeducacionais nas áreas da Psicologia e da Sexualidade.

Interesses principais incluem Psicologia, Sexualidade, Tradução, Línguas Estrangeiras, Viagens e Fotografia.

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