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Ao longo dos últimos anos, principalmente após o advento da internet, discussões sobre temas de toda sorte têm sido proliferadas com cada vez maior vigor. Não tem sido diferente no que tange aos assuntos sexuais, como, por exemplo, a masturbação. E nas arenas dos debates, tanto virtuais como presenciais, o princípio do contraditório e da ampla defesa tem ganhado força e lugar de destaque. É verdade que nem sempre tais discussões são produtivas por não estarem pautadas em confrontos de ideias, mas em acusações pessoais. Há, todavia, na rede e fora dela, conversas saudáveis recheadas de respeito ao próximo e avanço intelectual. No caso da masturbação, há falas que se posicionam de modo contrário e outras que se colocam a favor. E aqui cabe lembrar uma frase comumente atribuída a Voltaire, apesar de pairarem dúvidas sobre de quem seria sua real autoria: “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo”. Esse lema tem sido posto em prática por muitos e isso precisa ser reconhecido, valorizado, para que não incorramos no erro de colocar no mesmo saco (hipergeneralização cognitiva), como se fossem iguais, aquele(a)s que são diferentes.

Existem algumas vozes em nossa cultura que associam a prática masturbatória a algo feio, errado, pecado ou sujo. Essas são algumas perspectivas. Uma outra perspectiva é aquela adotada pela ciência, que entende a masturbação como um exercício que normalmente promove o autoconhecimento sexual. Mas, como diz o ditado popular, tudo demais é veneno. A água, por exemplo, é maravilhosa e fundamental para o funcionamento adequado do corpo, mas água demais afoga. Comida também é algo de que necessitamos, mas comida demais pode levar a complicações sérias no organismo. Algo não exatamente igual, mas semelhante ocorre com a masturbação, que, ao invés de prazer e relaxamento, pode, sob certas circunstâncias, trazer prejuízos à vida da pessoa que a pratica, assim como da de sua possível parceria. Como diria o príncipe Sidarta Gautama, posteriormente conhecido como o Buda, é importante adotar o caminho do meio.

Há pessoas que nunca ou pouco se masturbam, assim como há outras que se masturbam uma ou mais vezes por dia. Não há um consenso entre os pesquisadores da área afirmando que uma alta frequência masturbatória deva ser automaticamente considerada patológica. Mesmo uma frequência mais alta pode não ser patológica, desde que não traga sofrimento para a pessoa que se masturba ou para as pessoas que com ela convivem. O problema tem início quando o sofrimento começa a surgir. Alguém, por exemplo, pode não estar feliz com sua carreira ou com seus relacionamentos afetivos ou com amigos e utilizar a masturbação com função de automedicação, ou seja, como uma maneira de escapar dos sentimentos aversivos produzidos por essas situações. Caso essa pessoa não aprenda a lidar ou resolver esses problemas, o alto grau de aversividade irá se manter presente e a masturbação ocupará cadeira cativa em sua vida, tornando-se muitas vezes sua única fonte de obtenção de prazer. Nesse caso, é preciso aprender e pôr em prática ferramentas úteis para lidar com essas situações, de modo que seja possível diversificar o cardápio de opções ambientais e obter prazer em outras esferas da vida.

Quando a masturbação é praticada de modo patológico, é comum que esse problema seja mantido em segredo, debaixo de sete chaves. Esse segredo, inclusive, tende a ser facilitado, na medida em que a pessoa em questão também passa a viver de maneira mais isolada, longe dos holofotes do convívio social. Com ou sem pornografia, a prática masturbatória costuma ser um exercício de obtenção de prazer solitário. Quanto menos se convive com as pessoas, menos se aprende a conviver com elas. O isolamento acentua os deficit de repertório de habilidades sociais. E o quadro se instala, porque o prazer advindo dessa prática reforça esse padrão de isolamento. Essa condição vai se agravando à medida que a masturbação vai substituindo os encontros sexuais com o outro. Como diz Ney Matogrosso, em sua canção Por Debaixo dos Panos: “É debaixo dos panos / Que a gente entra pelo cano / Sem ninguém ver”.

Vários são os possíveis motivos que podem levar a um quadro de compulsão por masturbação e diferentes são os possíveis prejuízos decorrentes dessa condição, que, por exemplo, podem incluir desde ansiedade e depressão a danos à genitália e redução do desejo de intimidade com outras pessoas. Há casos em que apenas fazendo algumas pequenas mudanças na rotina o problema se resolve. Há outros, todavia, que necessitam de acompanhamento profissional. Esse é um texto meramente informativo e que não tem o objetivo de esgotar o assunto. Se você está enfrentando dificuldades nesse quesito, sugiro procurar a ajuda de um psicoterapeuta que tenha conhecimentos teóricos e experiência prática na área.

Texto de autoria do Psicólogo Alexandro Paiva.

Alexandro Nobre Paiva é Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta Sexual e de Casais (CRP 06/118772) com experiência no atendimento de clientes brasileiros e estrangeiros adultos, nas línguas inglesa e portuguesa. Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBAN IPq HC FMUSP) e pela Proficoncept, certificada pela DGERT (União Europeia). Qualificação Avançada em Psicoterapia com Enfoque na Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (INPASEX). Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBULIM IPq HC FMUSP) e pela Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP). Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

Especialista em Língua Inglesa: Metodologia da Tradução pela FAFIRE, tendo atuado como Professor de Língua Inglesa por cerca de 10 anos (Brasil e China) e convivido com pessoas de diferentes culturas, mantém o PsycBlog. Trata-se de um Blog com Recursos Psicoeducacionais nas áreas da Psicologia e da Sexualidade.

Interesses principais incluem Psicologia, Sexualidade, Tradução, Línguas Estrangeiras, Viagens e Fotografia.

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