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Amor na Quarentena: Superando Obstáculos na Vida a DoisMuito se tem escrito sobre o assunto e vários são os ângulos a partir dos quais se enxerga a situação. O vírus tem impactado várias áreas da vida, incluindo o campo dos relacionamentos amorosos. Enquanto uns se isolam fisicamente e investem seu tempo e energia disponíveis nos encontros online e outras atividades relacionadas, outros se veem ao lado do ser amado numa espécie de companhia intensiva involuntária. De uma hora para a outra, já não é mais possível dizer que não se pode fazer companhia, porque se está na velha, desgastada e por vezes conveniente correria. De repente, tudo parou. Interagir com a parceria vira quase que tarefa obrigatória, várias vezes por dia. Nesse cenário de enclausuramento, há casais que tiram de letra, há outros que se estressam um pouco, há os que se estressam muito e há aqueles que encaram a situação como sendo aquela gota d´água que faltava para que pudessem finalmente decidir pela separação. Por que será que as reações dos casais diferem tanto em tempos de quarentena?

O que ocorre é que junto com o aumento abrupto de frequência do convívio ocorre também um aumento de intensidade daqueles pequenos incômodos que nos acompanham no dia a dia de forma sorrateira, aparentemente inócua e imperceptível. Aquela pequena irritação com a roupa espalhada pela casa se torna uma tempestade, com tons bem diversos daquele retratado por Gene Kelly com seu guarda-chuva dançando na chuva. A visão da roupa espalhada pela casa pode passar a adquirir tons mais sombrios, típicos de uma cena de filme de terror, com direito a suspense antes de cada ato. E as reações tendem a não ser tão amenas como aquelas que ocorrem nas condições normais de temperatura e pressão. Importante lembrar que as faxineiras também estão de quarentena. E isso pode não ser um pequeno detalhe para alguns casais nessas situações. Desenvolver habilidades de comunicação adequada é um elemento-chave nessas horas.

Vários são os pequenos e aparentemente invisíveis incômodos que nesses tempos afloram, como, por exemplo, aquela toalha molhada que não é estendida no varal e que começa a cheirar mal no banheiro, aquela louça suja que é largada no balcão da cozinha para lavar depois, o pelo do cachorro ou do gato espalhado pela casa e que não foi aspirado de maneira adequada, etc. As reações de cada um dos membros do casal variam, mas felizmente há maneiras mais funcionais de se lidar com essas situações.

É importante entender que há sim casais que estão adorando essa fase de isolamento. Isso ocorre por algumas razões e é possível aprender muito com eles. Se pararmos para pensar em como essas pessoas se comportam nessas situações, podemos fazer algumas adaptações em nosso repertório cotidiano atual, com o intuito de melhor desfrutar da companhia daqueles com quem convivemos.

Um ponto importante e que não é um detalhe é o fato de que alguns casais conseguem transferir suas atividades laborais presenciais para o ambiente virtual. Isso garante uma continuidade no recebimento da renda mensal, que facilita de modo significativo o convívio. A falta ou a insuficiência de recursos básicos para a sobrevivência costuma exacerbar os ânimos e dificultar sobremaneira o dia a dia. Em momentos de crise, crie. Se a situação não estiver fácil no sentido financeiro, tente, por exemplo, identificar alguma habilidade que você tenha e que possa ser utilizada para gerar algum produto ou serviço, com a finalidade de aumentar a renda. É importante que esse produto ou serviço seja algo de que as pessoas necessitem no momento atual.

É verdade que há casais que estão bem na quarentena, porque são introvertidos. Sim, pessoas mais extrovertidas tendem a ter uma necessidade maior de interação social para se sentirem bem. Por outro lado, pessoas mais introvertidas costumam se sentir bem em contextos de isolamento social, porque podem focar mais nas próprias atividades, fazer as coisas mais ao seu modo e sem interrupções, ler livros, etc. E aqui fica uma dica para as pessoas de modo geral, mesmo as extrovertidas: ler livros é algo que pode ser feito na quarentena. É possível aproveitar esse momento para ler aqueles livros que você, em função de seu estilo de vida, jamais leria, como, por exemplo, os clássicos. Não apenas os clássicos da literatura universal, como os clássicos da literatura brasileira. Essa é, inclusive, uma forma de melhor entender o Brasil e suas idiossincrasias. A literatura clássica tem o poder de nos transportar para tempos em que se vivia de uma maneira que se assemelha em alguns aspectos à que estamos vivendo hoje. Nos tempos antigos, as pessoas ficavam mais em casa, faziam mais a própria comida, costumavam se reunir mais em volta da mesa, viajavam menos ou nem viajavam. Há muito a se aprender com o modo como viviam.

Casais que estão bem na quarentena costumam ver com bons olhos o fato de poderem aproveitar aquele tempo que seria perdido no deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa todos os dias fazendo coisas juntos com aqueles que amam.  O tempo perdido diariamente no trânsito pode agora ser utilizado, por exemplo, para jogar um jogo de tabuleiro, assistir a um filme juntos, preparar a própria comida, etc. Uma das queixas mais frequentes dos pais ultimamente é a de que, em função da correria, têm muito pouco tempo para ficar com os filhos. O tempo que sobra na quarentena pode também ser utilizado para conhecer melhor os próprios filhos.

A quarentena ajuda a colocar as coisas em perspectiva. Casais formados por membros que estão em eterna competição um com o outro podem começar a perceber que ser feliz é mais importante do que ter razão. Nesses momentos de incerteza quanto à própria existência e à existência daquele(a)s que se ama, reorientar a vida para que esta siga na direção do que realmente importa pode se tornar uma prioridade para alguns casais. Como diria Lenine na canção denominada Paciência, “será que é tempo que me falta pra perceber / será que temos esse tempo pra perder / e quem quer saber / a vida é tão rara (tão rara)”. Identificar e priorizar o que realmente importa na vida costuma reduzir o sofrimento e aumentar a sensação de bem-estar, uma vez que a vida adquire propósito.

Esse é um texto meramente informativo e não tem o objetivo de esgotar o assunto ou substituir consulta por profissional especializado. Caso você tenha alguma dificuldade no campo de seus relacionamentos afetivos, sugiro procurar a ajuda de um psicoterapeuta que tenha conhecimentos teóricos e experiência prática na área.

Referência:

www.lenine.com.br/discografia-lenine/na-pressao/

Texto de autoria do Psicólogo Alexandro Paiva.

Alexandro Nobre Paiva é Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta Sexual e de Casais (CRP 06/118772) com experiência no atendimento de clientes brasileiros e estrangeiros adultos, nas línguas inglesa e portuguesa. Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBAN IPq HC FMUSP) e pela Proficoncept, certificada pela DGERT (União Europeia). Qualificação Avançada em Psicoterapia com Enfoque na Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (INPASEX). Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBULIM IPq HC FMUSP) e pela Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP). Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

Especialista em Língua Inglesa: Metodologia da Tradução pela FAFIRE, tendo atuado como Professor de Língua Inglesa por cerca de 10 anos (Brasil e China) e convivido com pessoas de diferentes culturas, mantém o PsycBlog. Trata-se de um Blog com Recursos Psicoeducacionais nas áreas da Psicologia e da Sexualidade.

Interesses principais incluem Psicologia, Sexualidade, Tradução, Línguas Estrangeiras, Viagens e Fotografia.

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