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Há muito sabemos e dizemos que o ser humano é um animal social. Com isso, queremos dizer que a espécie Homo Sapiens historicamente sempre viveu e sobreviveu em grupos. É através da conexão com o(a) outro(a) ou outros(as) que o ser humano tem sua sobrevivência facilitada, ou melhor, viabilizada na Terra. O fato é que há uma rede, por vezes não perceptível aos olhos, de interconexões entre os seres, que possibilita o processo de adaptação à vida no planeta. Apesar disso, alguns acham que não precisam de ninguém. Por outro lado, há outros que não se concebem na vida sem pelo menos uma companhia. Há aqueles que não querem saber de seres humanos e têm como companheiros de vida cachorros, gatos, peixes, pássaros, plantas, etc, ao passo que outros ocupam esse tempo supostamente não dedicado a outros seres com livros, revistas, novelas, filmes, séries, etc.

Aqueles que acreditam que dão conta de viverem sós dizem isto por não perceberem o quanto estão enraizados até as entranhas na conexão com os pares. O próprio fato de terem acesso a utilidades como energia elétrica, gás, água potável, internet, etc, já pressupõe a existência de pessoas que fornecem esses serviços. Aqueles que se isolam no mundo da leitura precisam de escritores que escrevam seus textos e livros virtuais ou físicos. Na verdade, eles precisam não apenas dos escritores, mas de um grande conjunto orquestrado de profissionais de diferentes áreas, incluindo designers gráficos, editores, distribuidores, entregadores, apenas para citar alguns poucos. Os textos virtuais não ficam atrás e também precisam de profissionais diversos envolvidos na produção e manutenção desses textos no ambiente online.

Uma breve reflexão sobre esse assunto já nos permite entender porque temos tanto medo de sermos rejeitados, abandonados ou esquecidos. Não é à toa que sentimos medo quando temos que nos expor em público. Temos medo de projetar uma imagem que interfira negativamente com essa tão necessária conexão com o outro, que implica muitas vezes em nossa sobrevivência. Quando nos sentimos desvalorizados, desamados ou desamparados rapidamente queremos nos restabelecer e a solução nesses casos também é retomar o bom e velho vínculo afetivo.

E aqui caberia uma pergunta: como manter o vínculo afetivo num contexto de isolamento social imposto pelo coronavírus? O primeiro ponto a entendermos é que, diante desse cenário atual, precisamos tomar precauções com relação aos contatos físicos, mas isso não precisa incluir os contatos afetivos. Apesar de muitos preferirem os contatos sociais que incluem os contatos físicos, é possível sim manter os vínculos afetivos através da utilização das redes sociais e plataformas de comunicação virtual.

A interconectividade é necessária à existência humana. É através das conexões em rede que os seres humanos se fortalecem para seguir adiante. E aqui cabe uma reflexão sobre algumas formas básicas de conexão envolvendo apoio entre as pessoas. Estamos falando das redes de suporte social. Albrech e Adelman (2013) definem suporte social como sendo comunicação verbal e não-verbal entre receptor e emissor da mensagem, que reduz a incerteza em relação a uma situação, ao self, ao outro ou ao relacionamento e que tem a função de aumentar a percepção do controle que uma pessoa tem de uma situação. Cutrona e Suhr (2013) definem um sistema de categorias de suporte social, que envolve cinco categorias gerais: informativo; emocional; relacionado à estima; suporte de redes sociais; e suporte tangível. O suporte informativo acontece quando, por exemplo, alguém nos dá um feedback em relação a algo que fizemos ou um conselho que nos ajuda a perceber pontos importantes e que precisam ser modificados em nossas vidas. Já o suporte emocional ocorre quando alguém demonstra carinho, empatia ou preocupação com a gente.  Nós temos suporte emocional, quando temos, por exemplo, pessoas para nos apoiar quando algo dá errado em nossas vidas e precisamos chorar em um ombro amigo ou simplesmente sermos escutado(a)s sem que nos ofereçam qualquer outra solução. O suporte relacionado à estima se dá quando alguém nos transmite mensagens, com o intuito de melhorar nossas habilidades ou nosso valor próprio. São aquelas mensagens que nos ajudam a acreditar mais em nós mesmos(as). Esse tipo de apoio acontece, por exemplo, quando alguém nos incentiva a continuar fazendo um determinado trabalho, porque acredita que nós vamos conseguir ter êxito. O suporte de redes sociais acontece quando são veiculadas mensagens, com o objetivo de fortalecer o nosso senso de pertencimento a um grupo específico que compartilha conosco interesses e situações comuns. Quando nós temos esse tipo de apoio, costumamos sentir que fazemos parte de uma turma que tem a ver conosco. Isso rende várias mensagens de Whatsapp e afins, que fazem com que não nos sintamos sozinho(a)s. E, por fim, o suporte tangível é aquele que ocorre quando alguém fisicamente nos fornece produtos e serviços. Esse tipo de suporte pode ser fornecido de maneira remunerada por profissional devidamente qualificado, mas também pode ocorrer na forma de um “quebra galho”. É possível que tenhamos alguém em nossa rede que se disponha a verificar nossa temperatura e administrar nossas medicações quando estamos doentes e impossibilitados de fazer esse controle. Todas essas formas de suporte são necessárias na vida e só temos acesso a esses apoios quando estamos ativamente conectados a uma rede de pessoas. Esses vínculos que são formados através da rede de suporte social têm o objetivo de nos proteger, por exemplo, da solidão e do desamparo. Como se diz comumente em SP e outras cidades e estados da federação, “tamo junto, parceiro”.

Outro dia eu estava pensando sobre esse assunto e me veio à mente a imagem das trapezistas de um circo se arvorando em saltos ornamentais para o deleite do público. As pessoas naquela plateia, ao verem aqueles saltos audaciosos, provavelmente estavam sentindo aquele frio na barriga tão conhecido de todos nós. Mas todo o trabalho de aprendizado de como fazer aqueles saltos não seria possível se não houvesse uma rede de apoio que protegesse aquelas artistas todos os dias em seus processos de tentativa e erro. É graças àquela rede – muitas vezes não considerada como um elemento fundamental da cena – que o show pode continuar.

Todas as pessoas, para terem uma melhor qualidade de vida, precisam construir sua própria rede de suporte social. E a palavra construir aqui é importante, porque essa rede não “cai do céu”. Inclusive, é preciso que empreendamos um certo esforço para construirmos e mantermos essa rede ativa em nossas vidas. E toda essa discussão tem tudo a ver com o que acontece com os casais. Muitas vezes, um motivo de insatisfação e conflito em um relacionamento é a ausência dessa rede de suporte social de um ou ambos os membros da díade. Sabe aquela pessoa que você conhece e que começou a namorar ou se casou e “sumiu do mapa”? Pois é, quando os casais fazem isso, eles tendem a ter problemas.

Há casais que já tinham um padrão de isolamento social antes da quarentena, que se intensificou mais ainda com a imposição de isolamento físico e há casais que eram sociáveis antes da quarentena, cujos membros, nesse contexto de isolamento, têm se utilizado das ferramentas de comunicação online para manter ativas suas redes de suporte social. Casais cujos membros mantêm suas redes de suporte social ativas tendem a ter maior harmonia e satisfação em seus relacionamentos. É que nem tudo de que precisamos do ponto de vista afetivo pode vir do ser amado, por mais amado que seja. Os tipos de prazeres que temos nas conversas com outros membros da família e amigos são diferentes e igualmente necessários. Sabe aquela piada que só tem graça quando contamos para aquelas pessoas específicas? Sabe aquele tipo de papo que só dá para conversar a respeito com aquele(a) amigo(a) específico(a)? Sabe aquela postagem ou foto que só dá para compartilhar com determinadas pessoas? Há assuntos que, inclusive, nem podemos comentar diante do ser amado, para não colocar em risco o relacionamento. Imagina alguém contando detalhes íntimos de relacionamentos anteriores para um(a) parceiro(a) atual, que não vai conseguir ouvir isso de modo imparcial e que provavelmente vai guardar essas informações na memória para iniciar conversas difíceis e conflituosas no futuro. Não dá, né? Isso seria uma espécie de “sincericídio”. As próprias situações de conflito do casal costumam produzir em seus membros sensações desagradáveis. E como é bom ter alguém de fora da relação para conversar nesses momentos, para ter um ombro amigo ou simplesmente para escutar nossas dores. Ninguém pode ser exclusividade de ninguém. Somos todos de nós mesmos e, para vivermos melhor, precisamos de interconexão com o todo e de uma rede que nos dê apoio. É importante lembrar de que nós também precisamos dar apoio a essas pessoas que fazem parte de nossa rede. Não se trata apenas de receber, mas de dar também.

Esse é um texto meramente informativo e que não tem o objetivo de substituir consulta por profissional especializado. Caso você tenha dificuldades no campo de seus relacionamentos amorosos, sugiro que você procure um profissional com conhecimentos teóricos e experiência prática na área.

Referência: Ko, H. C., Wang, L. L., & Xu, Y. T. (2013). Understanding the different types of social support offered by audience to A-list diary-like and informative bloggers. Cyberpsychology, behavior and social networking16(3), 194–199. https://doi.org/10.1089/cyber.2012.0297

Texto escrito pelo Psicólogo Alexandro Paiva.

Alexandro Nobre Paiva é Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta Sexual e de Casais (CRP 06/118772) com experiência no atendimento de clientes brasileiros e estrangeiros adultos, nas línguas inglesa e portuguesa. Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBAN IPq HC FMUSP) e pela Proficoncept, certificada pela DGERT (União Europeia). Qualificação Avançada em Psicoterapia com Enfoque na Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (INPASEX). Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBULIM IPq HC FMUSP) e pela Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP). Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

Especialista em Língua Inglesa: Metodologia da Tradução pela FAFIRE, tendo atuado como Professor de Língua Inglesa por cerca de 10 anos (Brasil e China) e convivido com pessoas de diferentes culturas, mantém o PsycBlog. Trata-se de um Blog com Recursos Psicoeducacionais nas áreas da Psicologia e da Sexualidade.

Interesses principais incluem Psicologia, Sexualidade, Tradução, Línguas Estrangeiras, Viagens e Fotografia.

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