Há uma crença em nossa cultura de que sexo não é algo para se falar a respeito, de que é algo apenas para se fazer. Esse é um pensamento tido por muitos como uma certeza absoluta. Há quem reclame quando a parceria fala de sexo, dizendo, por exemplo, que ele (a) está tentando entender algo que deveria ser feito instintivamente. O fato é que, do ponto de vista científico, o que se observa é que fazer sexo não é algo instintivo, mas algo aprendido. Na verdade, a ideia de que fazer sexo é algo instintivo é uma regra disfuncional proferida em alta frequência em nossa cultura e que pode levar ao surgimento de possíveis problemas sexuais. Fazer sexo com uma pessoa A é diferente de fazer sexo com uma pessoa B, porque pessoas diferentes têm corpos diferentes, com histórias de vida diversas e foram construídas em ambientes culturais distintos. Uma abordagem para o sexo em um contexto A é diferente de uma abordagem em um contexto B e essas diferenças de abordagem precisam ser aprendidas, não são inatas. Esse aprendizado de que falamos não se limita à abordagem ou à realização do ato sexual e estende-se a todos os conhecimentos produzidos e ensinados através de um processo de educação sexual cientificamente validado.
Falar de sexo não é apenas importante para a aquisição de conhecimentos cientificamente produzidos sobre o assunto, como ocorre em um processo de educação sexual. É também um comportamento que tem relação direta com o prazer do casal, na medida em que só é possível para um dos membros da díade entender onde e como o outro gosta de ser tocado, quando esse outro fala sobre isso. Cada membro do casal é responsável pelo seu próprio prazer, o que inclui identificar as próprias preferências sexuais e comunicá-las à parceria. A identificação do próprio prazer é algo intransferível, porque a sensação de prazer acontece sob a pele, ou seja, um não tem como experimentar e descobrir pelo outro. É por isso que essa descoberta precisa ser comunicada.
A ideia é a de que cada um descubra seu próprio mapa erótico e dê as coordenadas ao outro, para que esse outro saiba como percorrer as trilhas eróticas do ser amado. A boa comunicação possibilita o acesso a essas coordenadas e esse acesso aumenta as chances de ambos terem prazer e orgasmo. É sempre bem-vindo qualquer movimento de ambos no sentido de reconhecer e minimizar possíveis ruídos comunicativos. Mas como descobrimos nossas próprias trilhas eróticas para construirmos esse mapa a ser comunicado? O método mais eficaz para se conseguir isso é a masturbação. Através dela, cada membro do casal irá aprender mais sobre como o próprio corpo funciona sexualmente. Ainda há muitos tabus em torno dessa prática, que precisam ser desconstruídos, para que o sexo possa fluir mais livremente e a vida de cada um mude para melhor.
Vale a pena salientar que um capítulo à parte nessa discussão sobre o que se deve ou não compartilhar é o das fantasias sexuais. A depender de como sua parceria funciona, compartilhar pensamentos eróticos mais íntimos pode produzir mais problemas do que alegrias. Nesse sentido, uma dica é ir testando a água aos poucos, mais ou menos como se faz ao entrar no mar ou em uma piscina: primeiro colocamos a ponta de um dos dedos na água para sentirmos a temperatura. Lentamente, vamos decidindo se é uma boa ideia ir mais fundo ou não. Ao invés de falarem diretamente, algumas pessoas preferem conversas mais indiretas, como aquelas que surgem quando um casal faz comentários sobre cenas de filmes, trechos de livros, novelas, etc. Esses comentários mais vagos permitem conhecer um pouco mais sobre as preferências sexuais e níveis de aceitação de cada um. O fato é que pessoas diferentes gostam de coisas diferentes. Conhecer aquele (a) com quem se convive ajuda a afinar o instrumento da comunicação.
Esse texto tem caráter meramente informativo e não objetiva esgotar o assunto. Caso você tenha a necessidade de tirar dúvidas ou resolver problemas relacionados à sua vida sexual, sugiro procurar um psicoterapeuta que tenha conhecimento teórico e experiência prática na área.
Texto de autoria do Psicólogo Alexandro Paiva.
Alexandro Nobre Paiva é Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta Sexual e de Casais (CRP 06/118772) com experiência no atendimento de clientes brasileiros e estrangeiros adultos, nas línguas inglesa e portuguesa. Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBAN IPq HC FMUSP) e pela Proficoncept, certificada pela DGERT (União Europeia). Qualificação Avançada em Psicoterapia com Enfoque na Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (INPASEX). Capacitação em Reabilitação do Amor Patológico pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (AMBULIM IPq HC FMUSP) e pela Escola de Reabilitação do Amor Patológico (ERA-AP). Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).
Especialista em Língua Inglesa: Metodologia da Tradução pela FAFIRE, tendo atuado como Professor de Língua Inglesa por cerca de 10 anos (Brasil e China) e convivido com pessoas de diferentes culturas, mantém um Blog com Recursos Psicoeducacionais nas áreas da Psicologia e da Sexualidade.
Interesses principais incluem Psicologia, Sexualidade, Tradução, Línguas Estrangeiras, Viagens e Fotografia.
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